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Altamiro Fernandes
A vida em verso e prosa
Textos

*Narciso, o Belo* #M#

[#MEMORIAL Recantista# – eu apoio.]

 

E narrar-nos a lenda que havia nascido na região da Boécia um belo jovem filho do deus do rio Cefiso com a bela ninfa Liríope. Seu nome: Narciso! Quando nasceu, o oráculo Tirésias profetizou que: -Narciso seria muito atraente e que teria uma vida bem longa. Entretanto, ele não deveria admirar sua beleza, ou melhor, ver o seu rosto pois – e se soer acontecesse – isso o amaldiçoaria por toda sua vida.

 

Narciso cresce. Agora, já adulto, Narciso é alvo da admiração de todas as jovens. A sua contagiante beleza o tornara alvo da inveja dos demais jovens e motivo de suspiros das moçoilas de antanho que almejavam com ele desposar. Imagino-o com encaracoladas madeixas a quedarem-lhe no dorso, tornando-o mais lindo que os Anjos da Capela Sistina, criados pelo magistral Michelangelo.

 

O deus Eros, tadinho, tivera que pedir ajuda ao deus Cupido, filho de Vênus e Marte, para que ele – fazendo uso das suas “envenenadas Flechas do Amor” – acertasse o coração de Narciso, o Belo. O coração de Narciso, todavia, estava escudado pelo egocêntrico pensar que pairava na sua cabeça.

 

Mas como surgiu este egocentrismo pensar? Conta-se que certa vez ao passear junto a um lago, ele, inesperadamente, vê a sua bela imagem refletida nas águas do lago. Ao se ver o quão belo era – e por não saber do que profetizara o oráculo Tirésias – por si se apaixonou!

 

As visitas ao lago se tornaram constantes. Narciso precisava encontrar-se consigo para admirar-se e satisfazer ao seu egocentrismo. E ali, na orla do lago, ficava ele por tempos imensuráveis a extasiar-se com a sua insofismável beleza.

 

O egocentrismo era tamanho que Narciso não conseguia nada ver que fosse comparado à sua beleza. Ele não via a linda metamorfose de uma lagarta saindo do seu casulo e se transformando em uma encantadora borboleta. Narciso não via o nascer do sol pincelando o horizonte com um colorido de beleza incomparável, nem via o poente sol se escondendo nas cacundas dos montes deixando nas nuvens uma aquarela de estonteante beleza, capaz de causar inveja a Leonardo di Ser da Vinci: o mago dos pincéis. Narciso não conseguia ver a beleza encontrada no chilrear dos pássaros; a beleza contida nas flores; nem o perfume da primaveril estação; ou mesmo, a beleza vista nos lepidópteros que abundam saltitantes pelas verdejantes relvas encontradas na natureza. Somente havia uma coisa que era bela para si: o Belo Narciso!

 

Numa aleatória tarde, as Fadinhas da Floresta estavam passeando pelos arredores. De repente uma delas vê um jovem na orla do lago.

-Que lindo! – dissera uma!

-Uau! Ele é maravilhoso! – gritaram em uníssono as demais!

 

As Fadinhas (Seriam safadinhas?) das Florestas ficaram extasiadas com a beleza do jovem que, tempos passados, souberam ser ele o filho do deus do rio Cefiso com a ninfa Liríope. Souberam mais: que o seu nome era Narciso, o Belo!

 

Na utópica e vã esperança de, por ele, serem notadas, as Fadinhas faziam de tudo, de um tudo que não dava em nada – ledo engano para elas! Para Narciso, ele era a primeira das Sete Maravilhas do Mundo – o seu pequeno mundo, claro está, e as demais, eram simplesmente as outras. Nada que pudesse se comparar com sua incomensurável e única beleza. Por outra experiência ele já havia passado. A encantadora ninfa Eco – que estivera apaixonada por ele – nunca teve o amor sentido sendo correspondido, haja visto que Narciso ficara atraído pela própria beleza sua!

 

A rotineira vida das Fadinhas da Floresta tivera uma radical mudança dos hábitos. Elas, agora, tinham um objetivo: todas as tardes se dirigiam ao mesmo local para admirarem o jovem mancebo. Mesmo sabendo que não eram notadas, e que as suas esperanças eram vãs, elas marcavam presença na orla do lago.

 

Numa bela e ensolarada tarde, lá vão as (Sa)Fadinhas para o “seu ponto de observação”. Decepção total! Narciso, lá, não se encontrava! Dia seguinte e no mesmo tempo de sempre, elas retornam. O belo Narciso, lá não se encontrava. Dias e mais dias se passam num pachorrento vai e vem sem que Narciso viesse aparecer na orla do lago. Intrigadas, resolvem ir até o Lago e perguntam-no:

-Lago, o senhor sabe onde está o Narciso? Há vários dias temos vindo à sua margem na tentativa de vê-lo, sem, todavia, conseguirmos! – indagam!...

-Quem é Narciso? Não o conheço, porque nunca o vi! – responde o Lago!

-Como nunca o viu? Ele é o homem mais lindo que existe e você diz que nunca o viu? Todas as tardes ele ficava na sua orla admirando a própria beleza e ...

-Ah!... É aquele jovem que ficava assentado naquela pedra a ...

-Sim! É ele! – as aflitas fadinhas interrompem a fala do Lago!

-Eu nunca reparei que ele era belo! Eu extasiava-me ao ver a minha beleza estampada nos olhos dele. Delirava ver o balouçar das minhas brilhantes ondas refletidas nos olhos dele. Eu, sim, sou o mais belo! Estou triste por saber que ele está morto lá embaixo e sendo comido pelos peixes! Mas, fazer o quê, né? – dissera o tristonho Lago!

Moral da história: o senhor Lago era mais narcisista que o próprio Narciso!

~~*~~

Imagem: Google

 

Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 26/11/2023
Alterado em 26/11/2023
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